Introdução
Conviver com a dança permite ao praticante observar que ela traz muitos benefícios tanto físicos, quanto psicológicos para a saúde.
A dança contribui para trabalhar as capacidades físicas como: coordenação, equilíbrio, ritmo, estresse, postura, socialização e faz com que os alunos explorem o espaço e manipulem os gestos e seus movimentos, facilitando a integração entre os participantes e a convivência e o respeito às diferenças.
Embora seja um instrumento pedagógico importante, percebemos que na escola, a dança é apenas apresentada e praticada em datas comemorativas como: dia das mães, festas juninas, dia do folclore e outras festividades.
Segundo Nanni (2003b) o movimento do corpo é de uma necessidade extra do cotidiano. O mesmo tem como objetivo atender as necessidades individuais do homem, percepção e relaxamento; consciência corporal e do seu autoconceito, ou seja, do eu existente, inseridas nos diferentes comportamentos e estilos de vida.
Para a autora o movimento é um processo gerado pela formação do indivíduo, melhorando a qualidade da percepção e estimulação inter e intrapessoal. A grande importância da consciência corporal, neste caso, é a integração motora de mecanismos neuro-psicofisiológicos, sociológicos e histórico-culturais. (NANNI, 2003b).
Conforme Nanni (2003b) a consciência do corpo se estrutura a partir da imagem do mesmo e dos meios de ação, estabelecendo a percepção e a memória, assim possuem fortes implicações com elementos sócio-afetivos, histórico-culturais e neuro-psico-fisiológicos.
Os movimentos se comunicam através da expressão, tendo como base o conhecimento do corpo, de suas habilidades, das manifestações estéticas, artística entre muitas outras. (NANNI, 2003b)
Segundo Nanni (2003a) a dança é usada como forma de educar em qualquer cultura. Em qualquer população humana, a forma de expressão é a dança, pois é nela que o homem pode representar e expor as emoções. Para o ser humano, a dança sempre foi presente, pois era através dela que faziam suas manifestações culturais fossem elas para os deuses, para a natureza, para a religião, o nascimento ou a morte, a guerra ou a paz.
A dança deve ser entendida como uma expressão corporal que exige emoção, criatividade e outras expressões que permitem ao homem se auto-conhecer. Dessa maneira a autora sustenta que a dança pode fazer parte do currículo escolar, contribuindo para o desenvolvimento e o aprimoramento do ser humano. (NANNI, 2003a).
De acordo com Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), a arte da dança sempre esteve e está presente nas diversas formas de culturas existentes no mundo, fazendo parte do dia-a-dia do ser humano integrando o trabalho, as religiões e até mesmo o lazer. Em toda ação do homem existem expressões corporais que devem ser estimuladas desde a infância. A criança precisa exercitar ao máximo este lado ligado a mobilidade corporal e aprendizagem das potencialidades motoras, afetivas e cognitivas de forma harmoniosa. (BRASIL, 1996).
Segundo os PCNs as atividades corporais são necessidades de toda criança a fim de formá-las um melhor vocabulário gestual e expressivo. Pesquisas feitas por neurocientistas comprovam que a dança na infância promove um melhor desenvolvimento da inteligência, sentimento e desempenho corporal. A dança pode ser praticada tanto individualmente como coletivamente promovendo a socialização, o respeito e a solidariedade da criança. Cabe ao professor desenvolver e estimular com diferentes atividades o crescimento motor, intelectual, social e cultural do aluno durante todo o ano letivo e não somente em datas comemorativas contribuindo para que os alunos descubram suas potencialidades artísticas. (BRASIL, 1996)
Na mesma linha, Rangel e Darido (2005) argumentam que a dança é uma expressão corporal antiga, que se desenvolveu a partir da necessidade do ser humano em se comunicar e se expressar. Para simular gestos e movimentos a dança não precisa ser representada apenas por música, mas também pelo canto e ritmos peculiares. As mulheres e os homens primitivos utilizavam a dança como símbolo da linguagem corporal, em datas comemorativas, tristezas e entre outros aspectos.
Segundo os autores, a dança pode ser classificada em vários tipos: Étnicas – traduzem a identidade de determinados países; Folclóricas – tradições e costumes pertencentes a cada região; Dança de Salão – antigamente dançadas pela nobreza, hoje em dia dançadas em bailes e festas. Dança teatral – é o estilo de dança para espetáculos. A dança desenvolvida como conteúdo da Educação Física escolar adquire alguns objetivos como: exploração da criatividade, ritmo, expressividade, entre outros. Assim faz com que o aluno consiga produzir, transformar, reproduzir e ser crítico quando necessário. (RANGEL; DARIDO, 2005).
Tomados como referência os pressupostos teóricos dos benefícios da prática, a dança deveria ser um conteúdo presente nas aulas de EFE, o que nem sempre pode ser observado.
Ao pesquisar sobre o que os professores de Educação Física acham sobre a dança escolar, Peres, Ribeiro e Júnior (2001) realizaram um estudo descritivo, com sujeitos de ambos os sexos, em um total de 20 escolas da Cidade de Maringá. Foi composta uma amostra de 19 professores de Educação Física, das 15 escolas escolhidas aleatoriamente, que responderam um questionário de nove questões abertas e fechadas validado para o estudo.
Os autores observaram que 68,4% dos professores entrevistados cursaram alguma disciplina ligada à dança no curso de Educação Física e já os outros 31,6% não tiveram nenhuma disciplina ligada à dança.
Segundo Peres, Ribeiro e Júnior (2001) a dança é de grande importância para que a mesma possa auxiliar o corpo como linguagem, expressão e comunicação aos alunos, assim, o professor deve aprender os fundamentos didáticos do movimento.
Peres, Ribeiro e Júnior (2001) obtiveram como resultado o reconhecimento dos professores em relação à dança no contexto escolar, os benefícios que a dança traz para os alunos, como: trabalhar espontaneidade, desinibição, habilidades físicas e motoras. Nas escolas estaduais de Maringá, mostra pelos dados obtidos que a maioria dos professores já tiveram qualquer noção que seja da dança, os resultados obtidos mostram que 84,2% não possui dificuldade para trabalhar com a dança e apenas 15,8% são os que não possuem domínio pela dança, apresentando uma certa dificuldade.
De acordo com a visão dos professores foi possível constatar que a dança é muito importante para o desenvolvimento da criança. (PERES; RIBEIRO; JÚNIOR, 2001)
Os autores observaram que as escolas tendem a apoiar os educadores para que os professores busquem auxílios em livros e cursos. O propósito não é formá-los em grandes profissionais na área da dança, mas sim para facilitar na aplicação da dança nas aulas. Ficando bem claro a todos que a dança traz grandes benefícios para o desenvolvimento integral do aluno. (PERES; RIBEIRO; JÚNIOR, 2001)
Ao pesquisar sobre a importância da dança na Educação Física, Manfio e Copetti (2008) realizaram uma investigação composta por treze professores do Ensino Médio, de ambos os sexos, sendo dez da Rede Estadual e três da Rede Particular de Ensino de Santa Maria e Nova Palma, RS. Os autores utilizaram como instrumento um questionário de cunho qualitativo, com questões abertas e fechadas, onde foram abordadas as perguntas sobre alguns temas como: estilos da dança, a dança incluída como componente curricular. (MANFIO; COPETTI, 2008)
Segundo os autores, a dança na visão dos professores participantes é de suma importância para a formação do aluno, contribuindo para a espontaneidade, a criatividade, o ritmo, a sociabilização, entre outros. Como conteúdo nas aulas de Educação Física, a dança é um rico instrumento, podendo ser uma forma de comunicação e expressão de idéias. (MANFIO; COPETTI, 2008)
Manfio e Copetti (2008) concluíram que os professores lidam com o conteúdo da dança, através dos conceitos encontrados na literatura, onde reconhecem a grande importância da dança como componente curricular.
Santos, Lucarevski e Silva (2005) fizeram um estudo sobre os benefícios e as contribuições da dança na fase pré-escolar. Tiveram como objetivo verificar de qual forma o ballet clássico modifica o modo das crianças de 4 a 6 anos se comportarem. O estudo teve como sujeitos 25 pais e mães de alunas do sexo feminino que começaram a praticar ballet clássico entre quatro a seis anos em uma escola particular em Londrina-PR. O instrumento usado para coletar os dados foi de um questionário que continha sete questões fechadas e uma questão aberta para que os entrevistados pudessem expor sua opinião sobre a mudança de comportamento que sua filha apresentava antes e depois de iniciar a prática do ballet clássico.
A mudança mais visível na investigação foi a melhora na coordenação motora, na lateralidade e na aquisição espaço-temporalidade. A dança estimulou a espontaneidade e a criatividade das praticantes, sendo percebida como um recurso terapêutico no qual a criança pode aumentar seu repertório de comportamentos a partir do movimento. (SANTOS; LUCAREVSKI; SILVA, 2005).
A maioria dos entrevistados, disseram que é muito importante começar a praticar a dança desde criança para que os alunos gostem da arte. Segundo os entrevistados as aulas de dança permitem que se desenvolva a criatividade, a expressividade, a compreensão e a comunicação. (SANTOS; LUCAREVSKI; SILVA, 2005).
Proscêncio (2008) pesquisou sobre dança na educação infantil e verificou de qual maneira o professor da Educação Infantil utiliza a dança no cotidiano escolar. A investigação teve como sujeitos 26 professoras atuantes da educação infantil.
Proscêncio (2008) realizou uma oficina para professoras sem experiência na área de dança do Centro de Educação Infantil. Segundo as participantes a dança não é utilizada no cotidiano escolar porque as mesmas não sabem como aplicar a dança, assim não se sentem a vontade e preferem utilizar pinturas e colagens por serem mais fáceis. Segundo as participantes da oficina, a dança só é utilizada em datas comemorativas no ambiente escolar. As professoras citaram alguns benefícios que a dança nos traz aos praticantes, como melhora do ritmo, da socialização, da auto-estima, da criatividade, entre outros. (PROSCÊNCIO, 2008).
Rocha e Rodrigues (2007) analisaram a inclusão da dança nas aulas de Educação Física, em pesquisa de natureza descritiva, tendo a participação de 11 sujeitos de ambos os sexos, professores de Educação Física, que lecionam nas Escolas Municipais de Ensino Fundamental da Cidade de Barueri – SP. Como método, foi utilizado um estudo probabilístico aleatório simples. Para coleta de dados foi utilizado um questionário, com perguntas abertas e fechadas. A pesquisa verificou que os professores só trabalham com a dança de acordo com o cronograma da escola, em datas comemorativas e eventos especiais e alguns professores investigados mostraram insegurança quando são selecionados para realizar o trabalho com dança em datas comemorativas.
Os autores observaram que a dança não é trabalhada freqüentemente, esquecendo das melhorias que a própria faz com o desenvolvimento corporal dos alunos. A maneira como os professores estão presos às tradições, as normas, os preconceitos que os mesmos têm em trabalhar com a dança no contexto escolar, resulta em profissionais que não tentam inovar e integrar a dança no contexto escolar, não visando apenas a dança como uma modalidade lúdica e sim como uma atividade que irá potencializar o desenvolvimento da criatividade, da imaginação e da capacidade motora de cada criança (ROCHA; RODRIGUES, 2007).
Kunz (2006) levantou outros questionamentos para aprendizagem da dança na Educação Física: a infra-estrutura da escola; o significado da dança (de como a mesma é trabalhada dentro e fora da escola); tempo adequado para o ensino formal e extracurricular. Sendo assim, o autor respondeu as questões acima tentando mostrar a importância da dança como conteúdo escolar e que o conhecimento da dança cultural é muito mais importante do que o funk, por exemplo, que é um tipo de dança importada. Sendo assim podem descobrir, tanto os alunos quanto os professores, que é mais fácil utilizar sons de formas artesanais do que produzir sons com aparelho eletrônico no espaço da escola. Segundo o autor, no planejamento das encenações, a dança tem como princípio a improvisação dos conteúdos como forma de expressão e experimentação. Assim professores e alunos necessitam estar buscando conhecimento do tema a ser escolhido.
Então, Kunz (2006) sugere que o planejamento, a organização de turmas mistas, os ciclos de formação, e os locais para as aulas (podendo ser em sala de aula, espaço coberto ou quadra) e a utilização de instrumentos para estímulo sonoro e a avaliação, que podem ser improvisados para alguma festividade cultural, também podem ser elementos que contribuam para a utilização da dança como conteúdo da EFE.
A cidade do Rio de Janeiro se destaca no cenário nacional como um grande centro de produção cultural no qual a expressão corporal através da dança se manifesta em ritmos que vão do samba ao funk. No entanto, os movimentos ritmados do caminhar ao dançar que se manifesta no dia a dia do carioca, não tem sido observado com a mesma freqüência e importância no cotidiano escolar e em particular nas aulas de EFE.
Certos da importância da dança para o desenvolvimento corporal dos alunos, contribuindo para a melhoria da concentração, coordenação, equilíbrio, criatividade, sociabilização, entre outros inúmeros pontos positivos, o interesse desta pesquisa é é verificar a percepção dos professores de educação física escolar quanto a utilização da dança como conteúdo nas aulas.
Metodologia
Esta pesquisa é de natureza descritiva de caráter qualitativo (THOMAS; NELSON, 2002) e teve como sujeitos 30 professores de Educação Física em escolas públicas e particulares da zona oeste do município do Rio de Janeiro, seis de gênero feminino e 24 de gênero masculino, com média de idade de 40 anos.
Foi utilizado como instrumento um questionário com cinco perguntas fechadas e quatro perguntas abertas, para que os entrevistados expusessem suas opiniões sobre a importância, a contribuição e a utilização da dança no contexto escolar.
Todos os entrevistados concordaram com a pesquisa e assinaram o termo de consentimento antes de responder ao questionário. Para análise de dados foi utilizada a estatística descritiva, para posterior interpretação e triangulação de dados (GOMES, 1994).
Análise e discussão dos resultados
Os resultados dos estudos de Manfio e Copetti (2008) e de Peres, Ribeiro e Júnior (2001) que observaram a importância da dança para a formação do aluno, contribuindo para a espontaneidade, a criatividade, o ritmo, a socialização dos alunos, entre outros, podendo ser uma forma de comunicação e expressão de idéias, foram confirmados na opinião predominante dos entrevistados desta pesquisa, na qual 93% dos sujeitos acham ser importante a existência da dança no contexto escolar e os outros 7% acreditam ser apenas uma questão de escolha da instituição de ensino.
Podemos afirmar com base nas respostas dos entrevistados de nossa pesquisa que 47% deles afirmam não ser capacitados para ministrar aulas de Educação Física com dança. Os demais participantes atribuem a outros fatores a não utilização da dança como conteúdo das aulas - 24% dos participantes levantam a idéia de preconceito dos alunos com a dança; 18% explicam a ausência da dança por falta de infra-estrutura por parte das escolas; enquanto 11% acreditam que a dança não é utilizada na Educação Física escolar por não estar no planejamento curricular.
A fala de um dos entrevistados pode ilustrar os dados informados acima e que podem ser vistos em detalhes na figura 1.
“Pouca formação dos professores, dificuldade espacial nas escolas e preconceito de alunos do sexo masculino.” (sic) - E23.
Um dos entrevistados explica que a dança deveria fazer parte do ensino da criança desde a educação infantil a fim de construir o hábito e favorecer a aceitação dos alunos.
“A Educação Física escolar ainda está muito impregnada da cultura de esportes e jogos. Observo nas aulas que os alunos só querem jogar. Outras atividades como a ginástica não atrai tanto os escolares. De repente, a dança teria que ser introduzida já na educação infantil, uma vez que a educação física integra este nível no contexto escolar. Outro ponto é o despreparo do professor para ministrar aulas de dança.” (E17).
Figura 1. Motivos para a dança ser pouco utilizada nas aulas
Questionados se as turmas devem ser mistas ou separadas por gênero, 90% dos entrevistados responderam que preferem trabalhar com turmas mistas, 3% optam por turmas separadas, enquanto 7% acreditam que depende da turma e esta passa a ser apenas uma questão de escolha por parte do professor. As orientações do PCN são de que a dança pode ser praticada tanto individualmente como coletivamente, a fim de promover a socialização, o respeito e a solidariedade da criança.
Peres, Ribeiro e Júnior (2001) observaram em sua pesquisa que 68,4% dos professores entrevistados cursaram alguma disciplina ligada à dança no curso de Educação Física e já os outros 31,6% não tiveram nenhuma disciplina ligada à dança. Nesta investigação verificamos que 97% dos nossos entrevistados responderam que tiveram alguma disciplina relacionada à dança, enquanto 3% não cursaram a disciplina. Ao que tudo indica, os conhecimentos e experiências em dança durante a formação do professor de educação física não tem sido suficiente para dar as habilidades e competências necessárias ao discente ao ponto deste sentir-se capaz de ministrar este conteúdo em sua atuação profissional.
Os entrevistados desta pesquisa a consideram a importância da dança comparada a outros conteúdos da Educação Física escolar - 46% dos entrevistados acham importante e 37% acreditam que a existência dança é muito importante no contexto escolar, enquanto 10% pensam que a dança não faz diferença na formação do aluno e apenas 7% acham pouco importante. Tendo em vista esses resultados podemos constatar o desejo da maioria dos professores em ter a dança como conteúdo nas aulas de educação física.
50% dos professores participantes afirmam que a escola onde trabalham não possui uma infra-estrutura adequada para a prática de dança nas aulas de educação física, enquanto 47% deles trabalham em escolas que oferecem uma infra-estrutura ideal para prática da dança como método de aprendizagem. Também podemos observar que a metade dos entrevistados trabalham em escolas dispõem de material como aparelhagem de som, porém não oferecem um local apropriado para a realização das aulas. Como alternativa metodológica Kunz (2006) sugere que tanto os alunos quanto os professores podem descobrir que é mais fácil utilizar sons de formas artesanais do que produzir sons com aparelho eletrônico no espaço da escola. No planejamento das encenações, tem como princípio a improvisação dos conteúdos como forma de expressão e experimentação. Assim professores e alunos necessitam estar buscando conhecimento do tema a ser escolhido. Essa parece ser a melhor maneira para suprir a deficiência de infra-estrutura por parte das escolas.
Os argumentos de Rocha e Rodrigues (2007) ajudam a entender a pouca utilização da dança no contexto escolar. De acordo com os autores a maneira como os professores estão presos às tradições, as normas, os preconceitos que os mesmos têm em trabalhar com a dança no contexto escolar, resulta em profissionais que não tentam inovar e integrar a dança no contexto escolar, não visando apenas a dança como uma modalidade lúdica e sim como uma atividade que irá potencializar o desenvolvimento da criatividade, da imaginação e da capacidade motora de cada criança. Em pesquisa realizada pelos autores pode-se verificar que os professores só trabalham com a dança de acordo com o cronograma da escola, em datas comemorativas e eventos especiais.
Podemos comprovar esses fatos através das respostas obtidas por nossa pesquisa, no qual 60% dos participantes não utilizam a dança como um conteúdo de ensino em suas aulas de educação física como E16 que diz:
“Não estou qualificado. Não domino o suficiente para propor uma atividade mais efetiva.” (E16).
O fato de 24 sujeitos entrevistados serem do sexo masculino pode explicar a falta de afinidade e identificação com a dança. O machismo e a cultura do esporte presentes na sociedade brasileira pode estar ligado a resistência e o pouco envolvimento de alunos dos cursos de formação de professores de educação física nas disciplinas de dança. Por outro lado, não explica a falta de habilidades e competências dos sujeitos do sexo feminino para ministrar este conteúdo na EFE. Ao que tudo indica, o quê e como ensinar nas aulas de EFE e a capacitação dos docentes devem ser alvo de reflexões mais aprofundadas.
23% dos respondentes usa a dança nas aulas, segundo E18
“A dança é um dos conteúdos da cultura corporal que permite a mais completa formação de uma linguagem corporal.”
Outra opinião positiva quanto ao uso da dança:
”A dança é uma excelente atividade para desenvolver a coordenação motora, percepção corporal, flexibilidade dentre outras valências físicas de maneira dinâmica.” (E21).
Enquanto apenas 17% afirma que a escola onde trabalham não oferece um local adequado para a prática e acabam só utilizando a dança em datas festivas, os PCNs sugerem que a dança precisa ser praticada durante todo o ano letivo e não somente em datas comemorativas, contribuindo para que os alunos descubram suas potencialidades artísticas. Proscêncio (2008) também observou que os entrevistados não aplicavam a dança na escola por não estarem preparadas e assim não se sentindo a vontade. A dança só era utilizada em datas comemorativas no ambiente escolar.
Está claro na percepção dos entrevistados que a dança traz grandes benefícios para o desenvolvimento integral do aluno:
“Dentro dos objetivos da educação física na escola (PCN’s) a dança é um dos conteúdos presentes em seu currículo. É uma maneira de procurar desmistificar o papel da educação física na escola (aspecto desportivo/tecnicista).” (E26)
Mas esta percepção não se converte em atuação para a maioria dos entrevistados (60%).
Quando perguntamos a opinião dos professores quanto à aceitação dos pais para utilização da dança como instrumento de socialização e aprendizagem para alunos de ambos os sexos, 64% deles acreditam que os pais dos alunos aceitariam a dança, já 23% pensam que os pais não a aceitariam como podemos perceber pela resposta de E18:
“O preconceito em relação ao masculino e feminino na dança ainda é muito presente em nossa sociedade.”
13% dos entrevistados pensam ser uma questão cultural relativa a cada família, preconceito ou apenas uma simples escolha correta do gênero musical.
“É necessário o esclarecimento do professor para os pais em relação à importância da dança na escola.” (E21).“Cabe ao professor mostrar os objetivos de sua aula, fazer uma abordagem do porque a dança fará parte da disciplina na sala.” (E26).
Benefícios proporcionados pela dança foram comprovados pela pesquisa de Santos, Lucarevski e Silva (2005) que investigaram a forma na qual as crianças praticantes da dança apresentam ou não mudanças de comportamentos. A mudança mais visível na investigação foi a melhora da coordenação motora, da lateralidade e da aquisição espaço-temporalidade. A dança estimula a ser espontâneo e criativo. As aulas de dança permitem que se desenvolva a criatividade, a expressividade, a compreensão e a comunicação. Rangel e Darido (2005) têm opiniões semelhantes aos outros autores, pois acreditam que a dança desenvolvida no conteúdo da Educação Física escolar alcança alguns objetivos como: exploração da criatividade, ritmo, expressividade, entre outros. Assim faz com que o aluno consiga produzir, transformar, reproduzir e ser crítico quando necessário.
As opiniões expostas pelos entrevistados de nossa pesquisa seguem pelo mesmo caminho, visto que 33% deles acham as habilidades motoras o principal benefício proporcionado pela dança, seguido de 25% que opta pela socialização, 18% dos entrevistados pensa que a dança ajuda no desenvolvimento da capacidade física do aluno, 11% acredita que proporcionam melhorias no âmbito educacionais e disciplinares, 8% pensam no desenvolvimento do autoconhecimento, 3% acha que a dança tende a melhorar a auto-estima do aluno e 2% acredita que a dança no contexto escolar possa servir como higiene mental. (Figura 2).
Figura 2. Benefícios da dança
Conclusões
Uma vez aplicado o instrumento de coleta de dados e obtidas as informações, verificou-se que mesmo estando presente na vida do homem, a dança ainda é pouco valorizada na educação física escolar, sendo apenas lembrada em datas comemorativas. Analisando mais atentamente pôde - se constatar que a maioria dos professores entrevistados que tiveram a dança como conteúdo da Educação Física escolar em sua formação universitária, manifestaram um despreparo para tal ministrar tal conteúdo. Além disso, alguns professores relataram só ensinar o básico da dança, o que nos faz pensar se realmente estavam preparados para desempenhar tal papel.
Foram apontadas diversas dificuldades como: os alunos não praticarem a dança da mesma forma que eles valorizam os outros esportes; os alunos não sentirem interesse ou afinidade, fazendo com que os professores não se dediquem a conhecê-la e inseri-la nas aulas; o preconceito dos pais e até mesmo dos próprios alunos e também a falta de infra-estrutura. Segundo os entrevistados algumas escolas possuem materiais e infra-estruturas adequadas para a realização da dança, já outras escolas não possuem infra-estrutura ideal para a prática da dança como um método de aprendizagem. Os entrevistados parecem deslocar de sua própria habilidade e competência os motivos da não inserção da dança como componente curricular.
Podemos constatar a grande importância da dança para a maioria dos professores, os mesmos percebem a dança como conteúdo na Educação Física escolar e um rico instrumento pedagógico que contribui para a sociabilização, o desenvolvimento da capacidade física, de habilidades motoras entre outros importantes benefícios. O que revela a contradição entre a crença manifestada pelos sujeitos e a sua prática.
Uma alternativa para solucionar o problema da dança ser pouco utilizada nas aulas, seria estimular a vivência da dança já na Educação Infantil, para desenvolver interesses e afinidades nos alunos. Desta forma, as escolas podem mostrar aos alunos através de reflexões e experiências, o papel da dança na Educação Física e na sociedade, incentivando os alunos em formação a conhecer a importância da mesma, valorizando a dança como um conteúdo importante na Educação Física escolar e na vida, o que consequentemente deve estimular o ensino-aprendizado da dança na escola. Assim, a dança será valorizada e utilizada em outras esferas educacionais.
Para que isso ocorra, é preciso que os professores que atualmente ministram Educação Física escolar passem a utilizar a dança regularmente em suas aulas, para que os jovens alunos e potenciais professores de Educação Física não cheguem às universidades com pouco conhecimento ou vivência da dança, sendo os conhecimentos aprofundados no ensino superior.
Espera-se com esse trabalho poder contribuir para que os professores e pesquisadores possam discutir e refletir a importância da dança como conteúdo da Educação Física escolar equiparando a outros conteúdos da EFE.
Referências
- BRASIL. Ministério da Educação e Desporto. Secretaria de Ensino Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC / SEF, 1996.
- GOMES, R. Análise de dados em pesquisa qualitativa. In: MINAYO, M. C. S. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.
- KUNZ, E. Didática da Educação Física. Rio Grande do Sul: Unijuí, 2006.
- MANFIO, Juliane B. A importância da dança na Educação Física escolar. 2008.
- NANNI, D. Dança Educação: Pré-escola a Universidade. Rio de Janeiro: Sprint, 2003a.
- NANNI, D. Ensino da dança. Rio de janeiro: Shape, 2003b.
- PERES, A.; RIBEIRO, D.; JUNIOR, J. A dança escolar de 1º a 4º série na visão dos professores de Educação Física das escolas estaduais de Maringá. UEM, v.12, n.1, p-19-26,1.sem. 2001.
- PROSCÊNCIO, P.; SOUZA, A. Dança na educação infantil: um convite ao educador. Anais da X Semana da Educação da Universidade Estadual de Londrina, 2008.
- RANGEL, I.; DARIDO, S. Educação Física na Escola. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
- ROCHA, D.; RODRIGUES, G. A dança na escola. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte- V.6, n.3, 2007.
- SANTOS, J.; LUCAREVSKI, J.; SILVA, R. Dança na escola: Benefícios e Contribuições na fase pré-escolar. www.psicologia.com.pt. V 10, 2005. Acesso em: 30 de setembro de 2009.
- THOMAS, J. R.; NELSON, J. K. Métodos de Pesquisa em Atividade Física. Porto Alegre / Artmed, 2002.
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